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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Bikini girl with a machine gun

Estava tudo muito bem
até que ela puxou da gaveta
uma pistola automática

Eu a havia conhecido
no Circus,
bar frequentado
por toda espécie de junkies,
marginais e psicopatas
injetava heroína
numa mesa cheia de garrafas
sob o vermelho do neon
ofereceu-me um pouco
e lá estava eu
em seu apartamento

Quer minha grana, perguntei,
não, ela disse, só quero te ver morrer.
Oh merda, pensei, essa com certeza
é a mulher mais maluca que já
encontrei

Tudo tem seu limite
e louco de amilas que eu estava
cheguei bem perto
mandei-a que atirasse
no meio da minha testa
a vadia titubeou
desferi-lhe um soco no rosto
um disparo se fez
acertando
uma imitação vagabunda de Monet
apagou

Achei melhor ir embora
vesti minhas roupas
peguei sua pistola

Sirenes tocavam
e no rádio
uma canção insuportável,
alguém tocando trombeta
cheirei um pouco de éter
cuspí-lhe a buceta.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Velho

às vezes me vejo velho assim
encarando essas paredes sujas
mendigando amor
mentindo pra mim mesmo
tomando café numa xícara suja

às vezes me vejo velho assim
podre de bêbado
numa terça-feira
escrevendo poemas, sozinho,
ouvindo aquele disco do Fellini

às vezes me vejo velho assim
de saco cheio com o resto do mundo
mandando tudo à merda
sem vontade de levantar
com fome e abandonado

às vezes me vejo velho assim
amigos mortos
desejos afogados
a negação
o caos
o fim.

domingo, 14 de julho de 2013

O cheiro dela já saiu da minha cama

o cheiro dela
já saiu da minha cama
e ainda não encontrei
sua pulseira

a última coisa
que ela me disse
foi que eu era
um escritor bagaceiro,
bêbado e fudido

faz sentido

relacionamentos descartáveis
redes antissociais

a raça humana
continua me decepcionando
e o meu maior problema
é que faço parte dela.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Prognóstico para o fim da noite

filosofia de quinta
um quarto barato
um terço de bíter
metade de um vinho
um tédio colossal

(espero estar enganado
as estatísticas podem falhar
da mensagem enviada
ao toque do telefone).

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Visita

à noite ela prefere a meia luz
de dia gosta de nos olhar
no grande espelho da porta

sua risada é o melhor que há

quando sai do banho
finge que não a estou vendo
e se seca
e se veste

pergunta se vi
seu secador de cabelos
digo que não

e anda descalça
pra lá e pra cá
com dreadlocks
e penas de pavão.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Sinfonias inacabadas que não saem da tua mente

Às vezes eu me pergunto
onde estará Nina
espero que esteja bem
agora longe da minha agonia

Ana foi à Serra
disse que talvez nem volte

Elas e outras
sumiram
de uma forma
ou outra

Seria demais
pedir que ficassem

Os dias passarão
tardes
noites
inverno
verão
fim de semana
fim do mês
fim do ano

muito rápido

e já não tenho tanto tempo
não há retorno
fui longe demais.

A pior coisa que tenho a dizer é que é tudo verdade

as relações humanas
são um saco
poderia viver tranquilamente
sem isso
não teria enlouquecido
nem beberia tanto
não teria adoecido

escuto grilos agora

é a minha dor de cabeça
que não passa nunca
é essa bagunça
incontáveis bitucas
é o amargo disso tudo

as relações humanas
me esgotam
e quando simplesmente
caio fora
elas não entendem
o quão doloroso é pra mim

garotas limpas e decentes
não conseguem entrar
no meu mundo
prefiro poupá-las
do horror e caos
que fodem meu cérebro
diariamente

café com torradas
risadas
um sono tranquilo
vida saudável

são coisas distantes

mas torço que passe
e até me imagino
achando graça
disso tudo.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Vida

seja verdadeira
esta noite
seja de verdade
caminhei demais
trouxe bebida
e cigarros
esteja lá
esteja aqui

o dia foi um saco
engoli sapos
e essa merda toda

seja de verdade
esta noite
enfrentei multidões
exércitos
e o escambau

quero mergulhar
em teu cabelos castanhos
e poder dizer
que essa porra toda
ainda vale a pena.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Das armadilhas em que a gente cai

Um amor de borracha,
látex,
desesperado
a eterna luta
entre paus e bucetas
disputas
a corrida
coito
catarse

o desastre.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Fardo

quando poderei visitá-la de novo,
eu pergunto
sei lá, ela me diz

e me preparo
para nunca mais vê-la

talvez diga que não está
quando eu ligar
pedindo-a que desça
para abrir o portão do prédio
talvez esteja com outro cara
talvez nem atenda

provavelmente voltarei para casa
com um fardo de cervejas na mochila
pesando mais do que deveria
e verei casais saudáveís
dentro do trem
desejarei matar a todos

com sangue no olho
sem amor
fechando cortinas
apagando todas as luzes

beberei todo o fardo de cervejas sozinho
me preparando
para nunca mais vê-la.

sábado, 20 de abril de 2013

Alma

-Pode vir, e traga bastante cerveja! - ela me disse.
Paguei a conta, levei umas latas
e fui ao seu apartamento
e a comi violentamente
despejei toda minha agonia
dormimos agarrados
e no dia seguinte
não houve nada de mais

Beijos sôfregos
Corpos transando sem alma.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Faceiro

acabou meu dinheiro
estou faceiro
acordei no banheiro
estou faceiro
chegou o bombardeiro
estou faceiro
caí dentro do bueiro
estou faceiro
queimou o meu chuveiro
estou faceiro
tudo tudo é derradeiro
estou faceiro
nunca nada é por inteiro
estou faceiro
meu vizinho é pagodeiro
estou faceiro
minha sina é a de solteiro
estou faceiro

o poema ficou bagaceiro,
fuleiro,
estou faceiro.

sábado, 13 de abril de 2013

Puteiros & Remédios

pegue minha mão
não largue
andei por vários bares por aí
lamento não ser quem tu queria
vaguei por puteiros
fumei três maços
tentei escrever algo decente
não deu muito certo

pegue minha mão
estou tonto, garota,
não quero ter filhos
dá um cigarro
está tudo fechado agora
e o último trem já saiu
vou amanhecer na rua
acompanhado por cachorros

largue minha mão,
largue,
gosteí de seu visual retrô
mas vai dar merda

largue minha mão
o remédio está fazendo efeito agora
preciso ir lá fora

até mais
ou nunca mais
preciso ir embora

tem muita gente na rua
e tudo tem rastro
e tenho a certeza
de que essa porra
vai me custar
mais do que deveria.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Aceite o fato, a maioria delas não dá a mínima para caras fodidos como nós

espere passar
curar
resolver

nem mesmo
as piores situações
durarão pra sempre

temos tempo
puxe uma cadeira
tomemos cerveja
depois vomite por tudo

e seja bem-vindo
ao clube.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

O empate

tenho um novo plano
é o mesmo de sempre,
tu me diz,
me entoco
neste buraco
que chamo de casa
encho a cara
e me emboleto

nada de mais,
tu me diz

tenho um novo plano
escrevo febrilmente
na minha Olivetti 82
e me atiro
nas paredes
depois
de um poema
como este

batido,
manjado, tu me diz

tenho um novo plano
um embate
nosso
constante
empate
(malditos leoninos!)
pára com isso,
tu me diz,
escreva algo certeiro

mato a garrafa
apago este poema
no cinzeiro.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Apartamento


ela irá deixá-lo entrar
no apartamento dela
mas não em seu coração
e o deixará deitado na cama
escutando Beethoven
ou talvez a chuva
ou talvez imerso
num sonho qualquer

ela irá deixá-lo entrar
dentro dela
mas não em sua alma
e o deixará
no elevador
escutando a sístole e a diástole
ou talvez o nada
ou talvez com a certeza
de que aquilo não irá se repetir

ela vai deixar
teu coração em frangalhos
provocando
porres
e mais porres
numa noite de merda
sozinho.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Flor

Tu quer trepar
e depois brigar
é assim que a gente começa

nesses meus 26 anos
ainda falta algo

tu quer foder
e depois lutar
e assim a gente termina

todos os rompimentos
com mulheres
loucas da cabeça

tu quer o fim
e o começo
disso tudo

não tenho nada
estamos altos
apago um cigarro na língua

bem-me-quer
mal-me-quer

essa flor
já murchou
há muito tempo.

terça-feira, 12 de março de 2013

A.P.L.

Chovia um bocado
eu estava
em frente à sua casa

Entre uma e outra
conversamos
sobre música
trabalho
e as peraltices
de seu filho

Tínhamos do que beber
e fumar
deixei meus problemas em casa
demos boas risadas

Agora
eu estava
em frente à sua casa
chovia um bocado
deixei-a dormir

Não havia muito o que fazer
acendi um cigarro
cocei o saco.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Que que eu fiz?

É como tem sido
às vezes
eu as encontro por aí
no ônibus
no trem
na rua

Elas fingem não me ver
como se nada
houvesse acontecido

É como tem sido
não fiz nada de errado
nada que eu julgue errado

Mofo em bares
cinzeiros transbordam
agonia não passa

E penso
em quem
será a próxima
desconhecida
o próximo
butinaço

Não estou
fazendo drama

É como tem sido.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

O brinde

Essa vodca que bebo agora sozinho
pensando em tanta coisa
me faz lembrar do que não fiz
quando ainda havia tempo

Agora não há

E esse copo que seguro
nesse instante
é o meu brinde
à minha covardia

Saúde!

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Porra!

Ela não responde às minhas mensagens
nem liga de volta
tudo bem, eu digo,
a gente se vê por aí
sei teu endereço.

Tudo bem
atiro-me na cama
soqueio o travesseiro
e abafo meu grito
pra ninguém mesmo ouvir.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Outro abandono

Outro abandono
lá vem a falta de sono
e lá se vai minha boa sorte
tropeçando num gato
e se esparramando na roseira

Embora eu esteja acostumado
isso me aborrece bastante

Outro abandono
outro poema sangrando
outro porre
outra lágrima escorrendo
pelo canto do olho

A vida despida
isso me ensina
que a solidão
é minha sina.

Uma punheta para cada mulher que entrou e saiu da minha vida

lembro de uma por uma
enquanto corto as unhas
das mãos e pés

despeço-me de cada uma delas
enquanto vejo os pedaços
das unhas caírem

mas as unhas continuam crescendo.

Eu só queria te matar mais umas dez vezes de novo

estou endoidecendo
as bitucas no cinzeiro
me escutam atentamente
mas talvez não entendam
as pessoas não entendem

hoje ficarei sozinho de novo
e isso tudo pesa
o passado cairá sobre mim
e é cada vez mais pesado

seguro o máximo possível
aperto com força os dentes
talvez eu aguente
por enquanto
sou vulcão dormente.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

O dia em que liguei a TV

deu no jornal
que alguém se matou
alguém nasceu
alguém se elegeu
alguém venceu
alguém se casou
alguém explodiu
alguém foi preso
alguém perdeu
alguém se fudeu
alguém peidou
alguém vomitou
alguém comeu
e que alguém mereceu

depois deu novela
redonda
quadrada
limpa
sem podres
enfeitada
asneiras
besteiras
e rostos bonitos

corpos andando sem alma
flores cobertas de merda.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

O começo

-Tu é muito tarado!- ela me disse
enquanto eu abaixava sua calcinha
e lhe beijava a nuca

e fomos pra cama de novo
e os vizinhos ouviram
nossos gritos e gemidos
talvez o mundo todo
naquele momento
precisasse saber
de nossa total entrega

como se fosse
a última transa

e o mundo não acabou
e a luz do fim da tarde
batendo em teu cabelo castanho
me diz que o mundo
recém começou.

De novo

prepare o terreno

sempre que tu me quiser
haverá luta
haverá sangue

estarei pronto

talvez eu não fique muito tempo

quero te ver
levantar nua da cama
e me dizer:
-Fica um pouco mais

de novo.